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Uma nota qualquer!

 

Quando aqueles primeiros acordes saiam da caixa, uma lágrima percorria sua face.

Amava aquela música, tocava todas as noites.

No mesmo velho bar, com os mesmos velhos rabugentos, as mesmas cervejas quentes.

Mas para ele pouco importava, desde o dia em que ela partiu.

Sua vida se resumiu ao seu trompete enferrujado e algumas moedas no bolso.

Seu amigo do contrabaixo ditava o tom, para que ele pudesse entrar em transe,

e assim ficar perto dela, aonde ela estivesse.

Nenhum aplauso ao final, apenas a camisa molhada, o choro misturado ao suor.

Ninguém prestava atenção, mas tocava com o coração, cada sopro, cada nota, uma declaração de amor.

Não bebia, nem fumava. Gostava apenas do clima do lugar. E por lá passou os últimos meses.

Numa noite qualquer de julho, em meio ao frio, e sol maior, um rosto familiar cruzou a porta.

O ar não saia mais, foi golpeado pelo destino. E olha que ele nem acreditava nessa história.

O cabelo escuro continuava a brilhar, os olhos pequenos e cerrados cruzaram com os dele.

Seu colega de palco entendeu o recado, e começou o solo.

Pouco importava, já que ninguém estava ali por causa deles. Mas em respeito aos deuses do blues, ele continuou.

A mão trêmula encostou no seu ombro, e seu coração encontrou o dela. Batendo no mesmo compasso.

Não trocaram nenhuma palavra, apenas bailaram ao som da música até o dia clarear.

No falando rasgado apenas se ouvia “ Everybody Loves the Sunshine…”